Já perdi a conta de quantas vezes ouvi isso, dentro e fora do consultório e eu mesma já estive às voltas com esse problema, então resolvi escrever a respeito.
Primeiro vamos a algumas definições, pra facilitar o entendimento:
“Metabolismo é a soma de processos químicos e físicos que ocorrem dentro de um organismo vivo. O metabolismo divide-se em catabolismo (quebra de uma substância para obter energia) e anabolismo (capacidade que o organismo possui de transformar uma substância em outra que sirva para seu desenvolvimento e reparação)”. (fonte: www.todabiologia.com/dicionario/metabolismo.htm)
O catabolismo pode ocorrer a partir da “quebra” de gorduras para obtenção de ácidos graxos e energia, da “quebra” de glicogênio (reserva limitada de carboidratos que temos no fígado e nos músculos, que serve como fonte de energia nos momentos de jejum – ex: entre uma refeição e outra) e da “quebra” de proteínas, a partir dos músculos (e tá dos órgãos, em caso de desnutrição extrema ou prolongada), para obtenção de glicose (para o cérebro) e de energia para o restante do corpo. Nós catabolizamos o tempo todo, mas nem percebemos porque há um constante equilíbrio entre catabolismo e anabolismo. catabolizamos inclusive para promover a renovação celular, pois as células velhas precisam ser destruídas, para dar lugar às novas! E também anabolizamos o tempo todo, quando produzimos novas células, para substituir as que morreram, quando produzimos novas fibras musculares, em resposta à atividade física e ainda, quando ganhamos peso, através do acúmulo de gordura no tecido adiposo…
O catabolismo é mais nítido quando iniciamos uma fase de muito estresse (logo compensada pelo ganho de peso, que já expliquei aqui e aqui) e quando fazemos dietas muito restritivas para perder peso (ou, mais tristemente, quando alguém está passando fome ou quando está com alguma doença disabsortiva, e não consegue absorver os nutrientes da alimentação, mesmo comendo bastante). O problema e que nesses casos, a perda de peso pode ser intensa, mas não necessariamente está relacionada (só) à perda de gordura! Geralmente há perda de muito líquido (no caso das doenças disabsortivas, a pessoa fica realmente desidratada e necessita receber soro intravenoso) e de massa muscular! E aí é que mora o perigo!
Cada vez que perdemos peso, perdemos gordura e água (facilmente recuperáveis), mas também, muita massa muscular. É justamente essa perda de massa muscular que faz o metabolismo se tornar cada vez mais lento, agravando os efeitos naturais do envelhecimento. Por volta dos 30 anos, começamos a ter uma perda (discreta, a princípio) do tônus muscular e da própria quantidade de massa muscular, que persiste até a velhice. Pessoas sedentárias e que tem uma alimentação inflamatória (baseada em açúcar, farinhas, gordura hidrogenada e produtos industrializados) e/ou pessoas que passam a vida fazendo dietas radicais e tomando medicamentos para emagrecer, são as que mais sofrem com essa perda. E é assim, que a cada nova dieta, a pessoa perde menos peso e recupera mais facilmente, sempre acrescentando alguns Kgs a mais no “pacote”.
O uso crônico de corticóides (necessário ao tratamento de doenças autoimunes, por exemplo) também promove esse catabolismo muscular e favorece o aumento da gordura corporal, mas aí estamos falando de outra situação, que pode ser amenizada por uma dieta de caráter anti-inflamatório e atividade física!
Então, resumindo a história, o tal do “metabolismo lento“, nada mais é do que o resultado da perda de massa muscular, que pode ter inúmeras causas, e muitas vezes, causas combinadas. Fazer apenas dieta, sem atividade física é outra coisa, que deixa o metabolismo mais lento! Comer muito carboidrato e/ou muita gordura, idem, pois ambos os nutrientes necessitam de pouquíssima energia para serem digeridos e metabolizados pelo corpo.
Há ainda a história dos termogênicos, a base de altas doses de cafeína e de substâncias semelhantes, que tem sido usados de forma indiscriminada (e por vezes, até irresponsável), em função do apelo de “acelerar o metabolismo”. Mas verdadeiramente o que eles fazem é estimular os receptores adrenérgicos no corpo, os receptores de adrenalina e noradrenalina, acelerando PARTE do metabolismo. A ideia, a princípio, é até muito boa! Similar o efeito da adrenalina, para estimular a quebra da gordura, liberando-a para ser usada como combustível durante a prática esportiva. Seria perfeito, se para isso, a gordura liberada fosse imediatamente usada, mas antes disso, ela precisa entrar nas mitocôndrias (que são organelas, minúsculas usinas geradoras de energia que temos em todas as células do corpo) e aí sim, entrar na brincadeira da geração de energia. O problema é que nosso estilo de vida moderno, com poucas horas de sono, consumo de muitos industrializados, uso de diversos medicamentos, exposição ambiental a uma infinidade de substâncias tóxicas, inflamação, entre outras coisas, causa DISFUNÇÃO MITOCONDRIAL, ou seja, faz com que nossas mitocôndrias percam parte da capacidade de usar toda essa energia que está liberada pelos termogênicos e como na natureza nada é desperdiçado, essa gordura, para não ser perdida, é encaminhada para o fígado, onde provavelmente acabará ficando, “sentadinha” e “quietinha” (só que não) pelo momento em que poderá virar energia para o músculo… e sabe-se lá quando isso ocorrerá… enquanto isso, o fígado fica só acumulando gordura…
Aliás, a queima de gordura, para promoção de um emgrecimento saudável, depende bastante de conseguirmos tratar essa disfunção mitocondrial, através do fornecimento de nutrientes importantes para estas organelas, como as vitaminas do complexo B, por exemplo, e através do tratamento da inflamação subclínica, causada pelo ganho de peso. Também é importante preparar o corpo para neutralizar todas as tozinas que serão despejadas na corrente sanguia, a hora que a gordura começar a “derreter”, para evitar que estas toxinas (poluentes, xenobióticos, resísuos de substâncias químicas, etc) causem problemas e estimulem o envelhecimento precoce e alterações celulares que podem gerar doenças crônicas, como o câncer.
Assim, a única (e real) maneira de acelerar o metabolismo, é sendo uma pessoa mais ativa, fazendo atividade física (melhor ainda se o exercício estimular a síntese de massa muscular e o aumento do tônus, como a musculação, o Pilates ou outra atividade que trabalhe com pesos, por exemplo), aumentando a ingestão de alimentos fontes de proteínas (acredite: nem sempre é necessário se encher de suplementos protéicos!) e diminuindo carboidratos (principalmente açúcar e os refinados) e diminuindo as gorduras (principalmente as mais inflamatórias, como as presentes nos laticínios, na gordura da carne, nos embutidos e nos produtos industrializados e priorizando as gorduras “boas”, como azeite de oliva, abacate, etc). Os músculos (depois do cérebro) são os maiores gastadores de energia que temos no corpo e mesmo durante o sono, gastam mais que os outros tecidos. Logo, se queremos acelerar o metabolismo e torná-lo mais ativo, precisamos, ao menos, preservar a massa muscular que temos. Melhor ainda, se pudermos trabalhar para aumentá-la!
Mas aqui cabe um alerta! É importante que as quantidades e as fontes destes nutrientes estejam dentro de um planejamento alimentar individualizado, de acordo com as necessidades de cada pessoa, considerando possíveis alterações em resultados de exames laboratoriais e histórico de saúde, pois o que pode ser benéfico para uma pessoa, pode causar problemas em outra! Então, não deixe de procurar um Nutricionista!