A SOP é um distúrbio endócrino, no qual há alteração nos níveis dos hormônios sexuais (aumento dos hormônios androgenicos, como testosterona) e diminuição dos hormônios sexuais femininos (estrogênio e progesterona), levando à formação de cistos ovarianos (por inibição da ovulação – o óvulo fica “preso” no folículo, dando origem ao cisto) que contribuem para cólicas menstruais, além de aumento dos pelos corporais (inclusive no rosto e seios), condição conhecida como hirsutismo, acne, queda de cabelo e ganho de peso, principalmente na região abdominal. Por conta destas alterações, as mulheres com SOP tendem a ter ciclos menstruais irregulares e podem passar meses sem menstruar, além de estarem mais sujeitas à infertilidade.
O tratamento geralmente é feito com o uso de anticoncepcionais orais, então as mulheres que estão em uso destes medicamentos, podem não apresentar mais nenhum cisto ovariano nos exames de acompanhamento, porém os mesmos podem voltar a aparecer após a suspensão da medicação.
Bom… muita gente a essa altura deve estar se perguntando por que uma Nutricionista está escrevendo sobre esse assunto e o que a Nutrição tem a ver com tudo isso…
Na SOP também ocorre um quadro de hiperinsulinemia (produção excessiva de insulina, hormônio necessário à captação da glicose pelas células de todo o corpo, para geração de energia), que evolui para resistência insulínica, semelhante ao que encontramos nos pacientes com pré-diabetes… ou seja, apesar dos níveis normais (e as vezes até baixos) da glicemia de jejum, há uma produção exagerada de insulina. Na verdade, os níveis baixos de glicemia (e a hipoglicemia após refeições e até mesmo durante o sono) ocorrem justamente porque a insulina está alta! Com o com o passar do tempo, essa insulina produzida em excesso, vai perdendo sua eficácia, ou seja, o corpo vai se tornando resistente à sua ação, podendo evoluir para o diabetes tipo II, além do ganho de peso excessivo.
A hiperinsulinemia também contribui para o desbalanço hormonal encontrado na SOP, pois estimula a proliferação das células da teca ovariana (para informações mais detalhadas, sugiro a leitura deste texto), aumento dos receptores do hormônio luteinizante (LH) e por sua vez, o LH aumentado estimula a produção de hormônios androgênicos.
A hiperinsulinemia também estimula a produção de receptores ovarianos para o IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina), que também estimularão a produção de androgênios e ainda, a diminuição dos níveis de SHBG (globulina ligadora de hormônios sexuais) e IGFBP (insulin-like growth factor binding protein) contribuem para o aumento dos níveis de IG1 e androgênios… ou seja, tudo na SOP leva a um aumento na produção de hormônios androgênios e diminuição da progesterona e estradiol (hormônios femininos).
Na SOP pode haver um aumento de até 25% dos adipócitos corporais, diminuição da atividade lipolítica (quebra de gordura) em até 40%, aumentando ainda mais as chances de obesidade e inflamação crônica.
Diante de tantos desequilíbrios hormonais, antes que o quadro evolua, o Nutricionista pode atuar precocemente, ajudando a diminuir os níveis circulantes de insulina e a melhorar o quadro de resistência insulínica, a tratar o sobrepeso (quando presente) e contribuindo para prevenir as complicações decorrentes desta alteração metabólica, que não são poucas: esteatose hepática (que já abordei nesse post), síndrome metabólica, diabetes, obesidade e até mesmo doenças cardiovasculares.
De um modo bem geral, no tratamento da resistência insulínica, é necessário associar à atividade física, uma alimentação de baixo índice e cargas glicemica e de baixo índice insulinêmico (que não sobrecarreguem tanto o pâncreas, para que a produção de insulina possa normalizar), e isso significa reduzir a ingestão de açúcar, doces, massas, carboidratos refinados, laticínios (principalmente os light ou zero, pois em sua composição, para compensar a ausência de gordura, adiciona-se amido ou maltodextrina ou ainda xarope de milho, ou frutose, que pode estar disfarçada de seus nomes comerciais, como açúcar invertido, por exemplo), além de refrigerantes e sucos industrializados.
Vale lembrar que os hormônios sexuais são produzidos a partir de matéria-prima vinda da alimentação, como o colesterol, então, a adequação dos hábitos alimentares também acaba por auxiliar em sua regulação. E como estamos diante de uma condição que gera inflamação crônica (mesmo que de baixa intensidade), não podemos esquecer da importância de incluir alimentos ricos em compostos antioxidantes e anti-inflamatórios, como frutas e hortaliças. Entretanto, é sempre importante lembrar que cada prescrição necessita ser individualizada, levando em consideração todo o histórico de cada paciente, resultados de exames laboratoriais, hábitos alimentares, nível de atividade física, etc.
Oi Juliana, descobri a síndrome a pouco mais de 1 mês, estou tomando o anticoncepcional Stezza, porem estou cheia de duvidas referente a uma ajuda pra melhor controle e eliminação de peso. De inicio não sei se procuro um endócrino ou uma nutricionista. Você pode me dar uma opinião?
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Olá Erica. Considerando que vc está usando o anticoncepcional e seu diagnóstico saiu a pouco tempo, eu imagino que o ginecologista tenha feito uma avaliação detalhada do seu perfil hormonal. O endócrino é o médico que avalia e corrige alterações hormonais, mas como a SOP afeta tanto os hormonios sexuais quanto a insulina, muitas vezes é tratada pelo ginecologista. Assim, o Nutricionista seria o profissional mais indicado para avaliar seus habitos alimentares e te ajudar com as estratégias para perda de peso.
Gde abraço, Juliana
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Olá, Juliana! Fui diagnosticada com SOP há alguns anos, por meio de exames hormonais – de acordo com o que me foi explicado, o quadro hormonal é consistente com SOP, sendo que o aumento de um dos hormônios, a DHT, era particularmente pronunciado. Mas fiz exames de imagem 2 vezes e em nenhuma delas foram encontrados microcistos no ovário – é só o desequilíbrio hormonal mesmo. Tenho hiperinsulinemia diagnosticada há muitos anos. Existe alguma chance de que apenas a hiperinsulinemia seja a razão do desequilíbrio hormonal? É que tenho utilizado medicação pra reduzir a DHT já há quase dois anos mas devo ter que retirar ou trocar de medicação em breve, e tenho receio de como meu organismo vai reagir. Gostaria muito de saber se apenas o tratamento da hipersinsulinemia é o suficiente para normalizar o hormônio sem a medicação. O que mais pode causar o quadro hormonal da SOP, além da hiperinsulinemia? Pelo que entendi, os microcistos são o resultado do desequilíbrio, e não a causa, estou certa?
Muito obrigada, apesar das dúvidas o texto foi tremendamente esclarecedor!
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Olá Marisa,
Não há como prever se somente o tratamento da hiperinsulinemia vai resolver todo o seu quadro, mas trata-la é parte fundamental nesse processo! Converse com seu médico a respeito e procure um nutricionista, para os ajustes necessarios na sua alimentação!
Gde abraço
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Olá Juliana, li o seu,post e gostei muito.Minha filha tem 25 anos e já foi diagnosticada com a SOP. Como não pode tomar hormônios por conta de um histórico de trombose na perna, sua pela é cheia de acne, tem dificuldades para emagrecer ,mesmo fazendo atividade fíisica e dieta, e para completar, tem muitas alterações de humor com leve depressāo e ansiedade. Além da dieta proposta, existe alguma fórmula natural (medicaçào )que possa ser manipulada para ajudar no controle hormonal? Grata pela atenção, Vc matnd em Sāo Paulo ?
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Olá Luciana, os anticoncepcionais não tratam a SOP, apenas controlam os sintomas e impedem a formação de cistos ovarianos, ao impedirem a ovulação. O tratamento da SOP requer o tratamento da hiperinsulinemia e da resistencia insulínica, com ajustes na alimentação, atividade física e fitoterápicos.
Eu só atendo no RJ, mas em SP indico a Nutricionista Vanderli Marchiori, que inclusive é uma das maiores referencias em Fitoterapia no Brasil.
Gde abraço, Juliana
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Olá Juliana! Achei muito interessante seu artigo! Fui diagnosticada com SOP há muitos anos e o ginecologista me receitou o anticoncepcional Selene, um dos mais fortes que existe né. Mas cheguei numa fase da vida de muitas mudanças…. Estou há mais de 1 ano sem engerir carne e ha 10 meses cortei também todos os alimentos de origem animal. Estou diminuindo o açúcar e o glúten… E decidi que não quero mais hormônios! Você acha que eu consigo controlar meus hormônios com a alimentação ou o uso de anticoncepcional é realmente necessário?
Tenho quase 30 anos e sou de Santa Catarina.
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Olá Juliana, só pelo seu relato é impossível afirmar que será possível manter todos os hormônios sob controle sem a medicação, pois esse controle depende de inúmeros fatores. O que posso te dizer é o seguinte:
1) Não exclua totalmente o glúten da alimentação sem ter procurado um médico para fazer os exames necessários e saber se você possui alguma desordem relacionada, já que problemas hormonais e associados com a fertilidade podem ser causados pela doença celíaca (sugiro que vc leia os textos onde falo sobre isso, pra entender melhor o porque de não excluir antes dos exames);
2) A ajuda de um Nutricionista é fundamental, pois é muito comum “escorregar” nos carboidratos durante essa transição para o veganismo e carboidratos demais podem piorar a SOP;
3) É possível viver sem precisar tomar hormônios, mas cada caso precisa ser avaliado por um profissional de saúde.
Gde abraço, Juliana
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